quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PLANOS E PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DO BRASIL – UMA BREVE ANÁLISE SOBRE SUAS INFLUÊCIAS PARA A DEMANDA TURÍSTICA DE TERESINA

Thiago Lima de Carvalho, 
Valdeci Melo Silva Júnior,
 Maria Juliana Pereira Ferreira,
Andréa Barbosa Alves e Silva e 
Isamara Iancowich e Eduardo Cunha Rosa
(Alunos do 2º Bloco do Curso de Bacharelado em Turismo da UESPI - Disciplina Sistur)

Orientação: Profa. Msc. Ana Angélica Fonseca Costa
Professora do Curso de Bacharelado de Turismo da UESPI;
Profa. da Disciplina Sistema  Turístico - SISTUR
RESUMO

Este artigo se baseia na análise da demanda turística, colocando em destaque o seu conceito; os fatores que ocasionam a demanda turística; as características da própria demanda turística. Também, traz à tona os planos e programas referenciais para o desenvolvimento da atividade turística no Brasil: Plano Nacional de Turismo; Programa de Regionalização do Turismo; Plano Aquarela 2020. Em última análise, faz uma observação a cerca da demanda turística de Teresina, apontando para a importância de realização de pesquisa da demanda turística na cidade.

Palavras-chaves: turismo, demanda turística, plano nacional de turismo e plano aquarela 2020.

ABSTRACT
This article is based on the analysis of tourist demand, putting in question the concept, the factors that cause the tourist demand, the characteristics of their tourist demand. It also brings up the plans and benchmarks for the development of tourism in Brazil: National Plan for Tourism, Tourism Regionalization Program; Aquarela Plan 2020. Ultimately, it makes a observation about tourist demand of Teresina, pointing to the importance of conducting research of tourist demand in the city.

Keywords: tourism, tourist demand, the national tourism plan and watercolor plan 2020

  1. Introdução

Dentro do contexto mercadológico, a demanda é considerada com a quantidade de mercadoria, produto ou serviço que certo público (consumidor) está disposto a consumir no mercado.
Andrade (1998, p.115) diz que “a demanda pode ser considerada como relação funcional que traduz a quantidade a ser adquirida a preços diversos, num dado período e em determinado local, qualquer que seja a natureza e a utilidade do produto”.
De fato, a demanda turística se classifica como um fenômeno constituído por grupos sociais e heterogênicos de turistas, que se deslocam de um núcleo emissor para um núcleo receptor, a fim de consumirem bens e serviços turísticos da localidade visitada a um dado preço em certo período de tempo.
A demanda é um dos principais elementos do componente mercadológico chamado produto. Muitos fatores podem influenciar a demanda de mercado. Fatores econômicos, financeiros, sociais ou até políticos podem influenciar na qualidade e na característica da demanda.
Em geral, a demanda turística ocorre devido a vários fatores, dentre eles estão o interesse pela facilidade e vantagens de acesso ao produto. O baixo preço pode influenciar a demanda a consumir tal produto de mercado.
“A demanda turística manifesta-se aumentada e estabilizada em seus mais altos patamares, quando os baixos custos dos produtos propiciam melhores oportunidades e condições mais favoráveis para sua aquisição”. (Andrade, 1998)
Sendo um fenômeno que pode ser classificado de várias formas, a demanda turística exige análise favorável a sua qualidade. De fato, o que existe em comum no grupo social da demanda é o interesse pela viagem. A viagem é o único elemento exclusivo comum a todos os componentes da demanda, mas não é suficiente para poder classificar e/ou qualificar a demanda. Nenhum fator como gostos, de desejos, preferências, necessidades ou até mesmo fatores como nacionalidade, a profissão, idade, nível social, sexo, por si só, são insuficientes para determinar ou qualificar social e economicamente a demanda turística.
Normalmente se faz uso desse conjunto de aspectos e fatores para a análise correta da demanda turística, levando em consideração de que a própria demanda turística é multifacetada e merece ser analisada pelo aspecto psicológico do grupo social da demanda.
Por tal, a qualificação da demanda turística se torna muito difícil e pode-se compreender porque a avaliação da demanda sempre ocorre de forma quantitativa.
A demanda turística pode ser conhecida, ou estimada, de acordo com Petrocchi (2002) por meio da pesquisa direta da demanda, que pode ser realizada tanto no núcleo de origem do turista, quanto núcleo receptor de turista, todavia, o autor faz uma ressalva acerca desses tipos de metodologias. O autor alerta que estas metodologias tratam da demanda real para oferta real. Quando se refere ao planejamento turístico, se refere também as mudanças no mercado de turismo, a localidade em estudo obterá novos produtos turísticos, e possivelmente os turistas terão sobre ela opiniões diferentes das que atualmente tem. A pesquisa direta, particularmente no núcleo receptor é de grande valia, pois ela determina o perfil e a satisfação da demanda real, traz números e inclusive através de seus resultados pode-se ter objetivos para o planejamento, no que tange à satisfação e a insatisfação do visitante.
A pesquisa de demanda turística tem como objetivo ampliar e atualizar a base de dados existente sobre o perfil da demanda turística potencial e real ainda inexplorado da localidade pesquisada, garantindo informações relevantes que contribuam para o melhor conhecimento e desenvolvimento do mercado turístico e também orientando os empresários e governantes a questões tão importantes quanto a melhoria dos seus produtos, serviços, equipamentos turísticos e infra-estrutura básica existentes.


2. Fatores que podem influenciar a Demanda Turística

Vários fatores exercem certa influência na chamada demanda de turismo.
Quando o turista, que é o principal personagem econômico originador da demanda, decide praticar o turismo e dessa forma consumir o produto turístico da localidade, ele se sente influenciado por vários aspectos.
Dessa forma, a demanda turística sofre a influência de fatores como:
  • O preço dos produtos: quanto menor o preço, maior será a procura da demanda e vice-versa;
  • Nível de renda dos turistas: quanto maior o poder aquisitivo dos turistas, maior será a quantidade de produtos demandados;
  • Política fiscal e controle de gastos de turismo: o aumento da pressão fiscal nos centros emissores provoca a diminuição da renda disponível para viagens de turismo, produzindo a diminuição da demanda por produtos;
  • Financiamento: a possibilidade de financiar as viagens a longo prazo, permite ao viajante realizar mais gastos com o turismo e com maior freqüência;
  • Taxas de intercâmbio: quando a moeda de centro emissor está fortalecida em relação ao dólar, gera uma demanda deste para os centros receptores onde a moeda local está enfraquecida em relação a moeda americana;

3. As características da Demanda Turística

O mercado turístico é bastante variado e as características das demandas podem variar de acordo com os tipos das ofertas turísticas. Todavia, as demandas turísticas possuem as mesmas características que variam de menor a maior grau de intensidade. São elas: a elasticidade, a sensibilidade e sazonalidade.
  • Elasticidade: o aumento e a diminuição da demanda que pode ser provocado pelos diferentes graus de sensibilidade às transições econômicas e financeiras;
  • Sazonalidade: de acordo com Boiteux e Werner (2002,p.24), “a alta estação: momento em que um núcleo receptor recebe o maior contingente de turistas. Os preços são mais altos”. Os autores afirmam ainda que: “na baixa estação: o núcleo receptor recebe o menor contingente de turistas. O serviço é mais bem prestado, já que há menos consumidores”.

4. Plano Nacional de Turismo, Programa de Regionalização do Turismo e Plano Aquarela: perspectivas para o Turismo Nacional

O Plano Nacional de Turismo é um plano de ação que visa o desenvolvimento pleno da atividade turística no Brasil. É um modelo de programa que tem como objetivo contemplar, harmonizar e desenvolver de forma coesa e eficaz o turismo no país, buscando sempre a “redução das desigualdades, distribuição de renda, integrando soluções nos campos econômicos, social, político, cultural e ambiental” (Ministério do Turismo, 2011), visto que o turismo é um importante fator para a construção de caminhos que levam a minimizar a pobreza, a fome, o êxodo rural e traz a garantia de sustentabilidade ambiental.
O Plano Nacional de Turismo é um modelo de desenvolvimento criado pelo governo federal junto ao Ministério do Turismo e tem como objetivo maior desenvolver de forma eficiente o produto turístico nacional, valorizando nossa diversidade regional (inclui-se os fatores culturais e naturais), promover o turismo como uma forte ferramenta de transformação social e econômica (inclusão social por meio de criação de postos de trabalho, distribuição de renda e etc). Dentro desse plano nacional se encontra outro programa, chamado de Programa de Regionalização do Turismo, que é um modelo de gestão descentralizada, coordenada e integrada com base na mobilização, cooperação intersetorial e interinstitucional e na sinergia de decisões onde se transforma a ação centrada na unidade municipal em uma política pública mobilizadora de planejamento e coordenação para o desenvolvimento turístico local, regional, estadual e nacional, de forma articulada e compartilhada, através do esforço coordenado entre municípios, estados e países para ações de negociação, consumo, planejamento e organização social.
A partir do Programa de Regionalização, foi realizada uma análise de identificação das principais regiões turísticas do Piauí. Essa análise contou com a participação de vários órgãos públicos ligados ao ramo da atividade turística, sistema “S” (SEBRAE, SENAI, SENAC), o “trade” turístico, prefeituras municipais e representantes das comunidades, resultando na priorização de sete regiões turísticas.
Atualmente, o Piauí conta com a catalogação de sete regiões turísticas denominadas: região turística: pólo costa do Delta; pólo das águas; pólo de aventura e mistério; pólo Teresina; pólo histórico cultural; pólo das origens e pólo das nascentes para as quais as ações do Programa de Regionalização do Turismo estão dirigidas. Dentre as sete regiões turísticas elencadas a que recebe ações mais expressivas é a região turística Pólo Costa do Delta, por ser alvo do Programa de Desenvolvimento do Turismo e por fazer parte do Roteiro Integrado – Jeri/Delta/Lençóis – Rota das Emoções.
Nesse sentido, percebe-se que com a criação da Secretaria de Turismo do Estado, ficou bem visível a intenção do governo Estadual em desenvolver plenos esforços e trabalhar mais expressivamente o turismo no Piauí.
Levando em consideração a importância de tais planos e projetos criados para o desenvolvimento do turismo em vários níveis regionais, vale à pena ressaltar a importância de outro plano nacional criado para fomentar a atividade turística no país e promover o Brasil no exterior, O Plano Aquarela 2020, do governo federal com parceria da EMBRATUR. Tal plano visa à divulgação dos atrativos turísticos do Brasil no exterior, com o intuito de aumentar a demanda turística internacional, como também visa à execução dos dois grandes eventos mundiais que ocorrerão no país nos próximos anos: a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas.

5. Demanda turística de Teresina: uma análise da pesquisa de demanda local

Em analise ao documento da Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí – Fundação CEPRO que realiza as pesquisas de demanda turística do estado tem como objetivo principal salientar a vinda e a permanência do turista em nossa capital, observa-se que não há uma continuidade das pesquisas periodicamente, dificultando dessa forma uma análise mais precisa da chegada de turistas no Estado.
O que se observou também foi que os dados mais recentes e atualizados são oriundos da Secretaria de Turismo, mas que disponibiliza um banco de dados muito pequeno e restrito ao profissional da área, apesar de considerar-se que essa pesquisa é de suma importância para os estudos de demanda turística da capital.
De acordo com a pesquisa de demandas turística de 2009, a demanda turística local está ligada essencial no turismo de negócios e de saúde. Dessa forma, os atrativos turísticos da cidade de Teresina ficam em segundo plano na oferta turística da cidade, podendo servir de base complementar de atração para o turista na cidade.
A demanda turística da cidade se caracteriza com maior regularidade, em poucos meses da baixa estação, apresentando-se basicamente estável por todo ano. Observa-se ainda que a receptividade/hospitalidade dos nativos representa um alto fator positivo, ajudando a diminuir os riscos do choque cultural entre turistas e nativos.
Todavia, é importante salientar que o apoio do governo e de outros órgãos responsáveis ainda se caracteriza como incipiente, por causa do pouco fluxo de turistas na região. Mas, vale ressaltar que atualmente existe uma preocupação significativa do poder público com relação ao turismo na região do Pólo de Teresina, no que diz respeito a sazonalidade e a lucratividade dos empreendimentos.
De fato, a cidade de Teresina, apresenta uma boa estrutura (infra e super) para receber seus visitantes, todavia, precisa melhorar e diversificar sua oferta turística para garantir o aumento da demanda turística local. Pois, de acordo com a pesquisa, a presença do visitante em nossa cidade se dá em um curto espaço de tempo, visto que a cidade não dispõe de uma boa e variada oferta turística que possa garantir por mais tempo a presença do visitante em Teresina.


Considerações finais

Referente aos planos e programas existentes, criados pelo governo federal a nível nacional e regional, tais projetos visam o pleno desenvolvimento da atividade turística no país. Tanto o Plano Nacional de Turismo, Plano Aquarela 2020 e o Programa de Regionalização do Turismo pretendem, de forma efetiva, promover o crescimento da oferta turística do país e da nossa região, buscando trazer melhorias para os produtos turísticos locais, regionais e nacionais, sempre visando à satisfação plena da demanda turística existente. Esses planos também têm seus efeitos multiplicadores, afinal, o crescimento e o desenvolvimento pleno e correto do turismo no país e na nossa regiã pode trazer benefícios mútuos à sociedade em geral, pois, como se sabe, Turismo é riqueza.
A pesquisa e caracterização da demanda turística de uma localidade se tornam de extrema relevância, tanto para a análise da situação atual da atividade de turismo, quanto para o seu planejamento e o seu desenvolvimento posterior. Conhecer sobre os aspectos específicos dos turistas é fundamental para adequar e planejar de forma coordenada e coesa toda a organização do turismo receptivo de maneira sustentável e positiva. No caso da pesquisa de Demanda Turística de Teresina, se torna essencial saber o perfil do turista, seus gostos, o motivo de sua viagem a cidade, sua avaliação a cerca da infra-estrutura e da cadeia de empreendimentos turísticos da cidade. A partir desses dados, é possível elaborar um projeto de desenvolvimento do turismo em Teresina, proporcionando melhorias a infra-estrutura e super-estrutura, assim como na melhoria e inovação da oferta turística da cidade. Dessa forma, pode-se obter um aumento na demanda turística local e tornar a cidade mais atrativa e com uma oferta e um produto turístico mais valorizado.


 

REFERÊNCIAS

ANDRADE, José Vicente de. Turismo: fundamentos e dimensões. 8ª Ed. São Paulo: Ática, 2002.
BOITEUX, Bayard. MAURÍCIO, Werner. Promoção, entretenimento e planejamento turístico. São Paulo: Aleph, 2002.
FUNDAÇÃO CEPRO. Pesquisa de Demanda Turística de 2009. Disponível em: http://www.cepro.pi.gov.br/pesqturistica.php. Acessado em 03 de Outubro de 2011.
MINISTÉRIO DO TURISMO. Regionalização do Turismo. Disponível em http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/. Acesso em 03 de outubro de 2011
PETROCCHI, M. Planejamento e gestão do turismo. São Paulo: Futura, 2002.



terça-feira, 8 de novembro de 2011

ONGs brasileiras criticam indefinição de proposta para a Rio+20



Rio de Janeiro, Brasil, 8/11/2011 – Ambientalistas criticam a escassa definição do documento apresentado pelo Brasil como contexto de discussão para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá nesta cidade em junho de 2012. As propostas apresentadas no dia 1º deste mês à Organização das Nações Unidas (ONU) para o encontro, que acontecerá duas décadas depois da Cúpula da Terra, demonstra, segundo o governo brasileiro, seu “compromisso” com o desenvolvimento sustentável que “tem na erradicação da pobreza um elemento indispensável”.


“A erradicação da pobreza extrema é condição necessária para a realização dos objetivos assumidos rumo ao desenvolvimento sustentável”, afirma o documento. O texto inclui, entre outros eixos, a necessidade de fortalecer o multilateralismo como “única opção para o tratamento dos grandes problemas globais”, e o papel do Estado como indutor e regulador de desenvolvimento.


A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que é necessário “avançar nos próximos 20 anos com desenvolvimento sustentável inclusivo” e que “a economia verde inclusiva é o caminho”. Porém, a proposta (segundo o Itamaraty, uma contribuição inicial para elaborar a primeira minuta do texto final que será negociado por todos os países-membros da ONU) não satisfez as expectativas de organizações ecologistas brasileiras.


O documento “está muito longe de um caminho que “mostre a transição para uma nova economia”, disse à IPS o coordenador adjunto do Vitae Civilis, Rubens Harry Born, que participou da consulta do governo para elaborar a proposta, como parte do Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais de Meio Ambiente e Desenvolvimento.


Para Born, o processo de consulta foi “interessante”, mas também “insuficiente”. Foram apenas 20 dias para debater todos os temas, com uma “visão muito limitada de consulta”, afirmou. Por exemplo, as ONGs não tiveram a oportunidade de debater a proposta com o Ministério da Fazenda, que, por outro lado, debateu com sindicatos e empresários, acrescentou, ressaltando que “isso limitou o alcance das contribuições da sociedade”.


Born considerou “insuficiente” o conteúdo que, entre outras propostas gerais, menciona um programa global de proteção socioambiental que tenha por objetivo a garantia de renda para superar a pobreza extrema e garantir a qualidade ambiental, a segurança alimentar, a moradia adequada e o acesso a água limpa para todos. “O que falta o governo responder à sociedade é quanto, quando, com quais recursos, metas e instrumentos isso será feito. Queremos coisas mais tangíveis, metas, e isso não fica claro no documento”, acrescentou.


Segundo ambientalistas, temas mais novos, como a segurança nuclear após o acidente atômico no Japão este ano, ou os movimentos migratórios provocados pelas mudanças climáticas, não foram considerados. O governo propõe adotar metas de sustentabilidade, ao estilo dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.


Sobre a base de um programa de economia verde inclusiva, “as negociações complexas para estabelecer metas rígidas e obrigatórias poderiam ser substituídas por objetivos reitores em áreas nas quais há ampla convergência de pontos de vista. De modo semelhante às metas do milênio, este enfoque pode guiar os países para o desenvolvimento sustentável”, afirma a proposta.


É sugerido um Pacto Global para a Produção e o Consumo Sustentável, que incluiria, entre outros elementos, as compras públicas mediante as quais os governos usem sua capacidade para modificar padrões de produção e consumo.


Uma iniciativa multissetorial para estabelecer padrões de consumo eficiente de energia, financiamento prioritário para o estudo e a pesquisa em desenvolvimento sustentável e um arquivo de iniciativas são outros elementos do sugerido Pacto Global. O Brasil também propõe que o uso da água seja tratado de forma mais integrada no âmbito da ONU.


Enquanto o governo fala de energia limpa, não discute, por exemplo a questão dos subsídios aos combustíveis fósseis, nem de quando apoiará as “fontes renováveis”, questionou Born. Ao mesmo tempo, acrescentou, “investirá milhares de milhões para explorar o pré-sal, que são as jazidas de petróleo sob camadas de sal em águas profundas do Oceano Atlântico.


Tampouco são estabelecidas metas claras sobre saneamento, crucial para regiões com África e América Latina. Cerca de seis mil pessoas morrem por dia no mundo de doenças como diarreia, destacou Born. Trata-se de “propostas extremamente genéricas e abstratas”, disse Fábio Feldmann, ex-deputado e ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo. “Temo que, se a intenção é convidar chefes de Estado do mundo inteiro para virem aqui apoiar propostas genéricas, a reunião não seja tão efetiva”, disse à IPS.


“Estou muito preocupado porque não sinto que existam propostas efetivas em termos de medição, de aporte de recursos financeiros, de metas”, acrescentou Feldmann, que também foi secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança Climática, entre 2000 e 2004, e do Fórum Paulista de Mudança Climática Global e Biodiversidade até 2010. Em sua opinião, “não há nada inovador” em relação a conferências anteriores.


Feldmann concorda com a adoção de padrões de consumo energético, melhoria na governança mundial ambiental e com financiamento prioritário de ciência sobre desenvolvimento sustentável e economia verde. “Mas, operacionalmente, como tudo isso funcionaria?”, perguntou.


Para o ecologista Sérgio Ricardo, membro e fundador da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, trata-se de “um discurso de economia verde e, na prática, de uma economia marrom”, em referência aos bancos estatais que financiam iniciativas privadas não sustentáveis e ao impulso a fontes não renováveis, como centrais termoelétricas e nucleares. Por outro lado, considera “muito positivo a inclusão de metas do milênio, como redução da pobreza e das desigualdades sociais”, mas, lembra que “há certa distância entre o discurso e a economia oficial”.


A proposta de Brasília para o setor financeiro (que tem uma “capacidade única de indução e fomento da economia internacional”) é um protocolo de sustentabilidade social e ambiental. Um pacto para a economia verde inclusiva deveria incorporar de forma obrigatória informações sobre conduta social e ambiental e governança corporativa nos relatórios anuais de empresas, bancos e fundos de pensão, entre outros atores do setor privado.


Também é proposta a adoção de índices comparativos de sustentabilidade que sirvam de referência para os investimentos em bolsas de valores. “Concretamente, gostaria de saber o significado disso em termos de legislações nacionais”, disse Feldmann. O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, explicou que, uma vez apresentadas todas as propostas oficiais à ONU, começará a negociação dos documentos finais da Conferência, que acontecerá de 4 a 6 de junho. “Logo no início de 2012, entraremos na fase de negociações intergovernamentais para chegar ao documento final da Rio+20”, afirmou aos jornalistas.


Em junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática e Desenvolvimento constituiu um momento inovador. Os governos adotaram a Agenda XXI, o primeiro plano detalhado de medidas mundiais, nacionais e locais par alcançar o desenvolvimento sustentável, e as convenções sobre a diversidade biológica e a mudança climática. Envolverde/IPS




Fonte: Envolverde